Família usa IA para reviver homem morto em briga de trânsito

Já imaginou uma pessoa assassinada aparecer "em vídeo" no tribunal para perdoar seu assassino? Parece episódio de Black Mirror, mas foi exatamente isso que aconteceu nos Estados Unidos.
Chris Pelkey, veterano da Guerra do Iraque, foi morto em 2021 durante uma briga de trânsito. Anos depois, em um recurso do julgamento, sua própria família decidiu usar inteligência artificial para recriar sua imagem e voz, como se ele estivesse presente, falando com o tribunal — e até com seu assassino.
O vídeo de quase 4 minutos foi feito com IA generativa e técnicas de deepfake. Ele começa com o próprio Pelkey (ou melhor, sua versão digital) explicando que é uma recriação feita a partir de fotos e do perfil vocal da vítima. Depois, discursa sobre perdão, amor ao próximo e fé cristã. No final, fala diretamente ao réu, Gabriel Horcasitas, dizendo que talvez pudessem ter sido amigos em outra vida.
Perdão real… ou encenação digital?
Apesar da mensagem emocionada, o juiz do caso não se deixou levar pelo tom humanizado do vídeo. Horcasitas recebeu pena 10 anos e meio de prisão. O juiz reconheceu o esforço da família e até mencionou o “perdão de Pelkey”, mas deixou claro que, para a Justiça, o vídeo era simbólico — e não prova real de sentimentos da vítima.
E aqui entra a parte mais polêmica da história.
A ética do além: quem controla o que os mortos "dizem"?
O uso de IA para recriar mortos levanta uma série de questões éticas:
É certo colocar palavras na boca de alguém que não está mais vivo?
Quem garante que aquele "perdão" representa o que a pessoa realmente diria?
Isso pode manipular decisões judiciais ou influenciar emocionalmente o júri?
Segundo Gary Marchant, professor de Direito, “você vê alguém falando, mas não é realmente quem está falando. Ela está morta.” E isso torna tudo ainda mais perturbador.
Deepfake: de diversão a dilema jurídico
Softwares de IA que recriam vozes e rostos já são usados para animar fotos antigas, dublar vídeos ou até “reviver” celebridades em campanhas publicitárias. Mas seu uso em tribunais? Essa é uma novidade que abre precedentes perigosos.
E se, no futuro, testemunhas falecidas forem "chamadas" para depor? E se a imagem de alguém for usada sem autorização? A linha entre homenagem, manipulação e desinformação pode ficar muito tênue.
Curiosidade: o que é deepfake?
O termo "deepfake" combina deep learning (aprendizado profundo) com fake (falso). Trata-se de vídeos ou áudios criados com IA, capazes de imitar rostos, expressões e vozes humanas com impressionante realismo. Já existem vídeos falsos de políticos, celebridades e até familiares circulando na internet — e muitas vezes, é difícil notar a diferença.
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