Você já ouviu falar em síndrome de pica? É bastante comum...

Já imaginou sentir vontade de comer sabão, terra ou até pedaços de tijolo? Pode parecer enredo de filme ou pegadinha de internet, mas isso é mais comum do que você imagina. Estamos falando da síndrome de pica, também conhecida como alotriofagia, um transtorno alimentar real e curioso que desafia até os especialistas.
O que é a síndrome de pica?
A síndrome de pica é um distúrbio alimentar caracterizado pela ingestão repetida de substâncias não alimentares por pelo menos um mês. Entre os itens mais consumidos estão papel, giz, pano, cabelo, sabão, gelo, barro, carvão, tinta e até pedras e metal. O nome “pica” vem do pássaro Pica pica, conhecido por “bicar de tudo um pouco” – o que é uma metáfora perfeita para esse comportamento humano incomum.
Por que alguém comeria coisas assim?
A principal explicação está em deficiências nutricionais, especialmente de ferro e zinco. Esse desejo pode surgir como uma tentativa do corpo de suprir essas carências. No entanto, fatores psicológicos também têm grande peso: transtornos mentais como autismo, esquizofrenia ou situações de estresse extremo e emocionalmente desgastantes, como gravidez e depressão, estão entre os gatilhos mais comuns.
Curiosamente, a condição é mais frequente em gestantes e crianças pequenas, o que pode estar ligado ao desenvolvimento neurológico e à alta demanda nutricional dessas fases da vida.
Farinha de mandioca como vício? O relato impressionante de Manoella
A veterinária Manoella Omena, de 37 anos, viveu na pele os efeitos da síndrome de pica. Após o nascimento dos filhos gêmeos, ela desenvolveu um hábito compulsivo por farinha de mandioca, chegando a trocar todas as refeições por copos do produto seco. A ponto de esconder da família e quebrar restaurações dos dentes.
Foi só após descobrir níveis críticos de ferro no sangue e iniciar tratamento que ela conseguiu se livrar do vício. Manoella nunca teve um diagnóstico formal de alotriofagia por vergonha — o que é mais comum do que se imagina.
Quais são os riscos de comer coisas não comestíveis?
Engolir substâncias que não são alimentos pode causar uma série de problemas graves, como:
Obstruções intestinais
Perfurações no esôfago
Dentes quebrados
Intoxicações (como envenenamento por chumbo)
Agravamento de anemias e outras deficiências
Além disso, o consumo constante de itens como terra ou sabão pode interferir na absorção de nutrientes, criando um ciclo vicioso: quanto mais a pessoa come, menos o corpo absorve o que precisa, e maior fica o desejo.
Como saber se você tem alotriofagia?
Se você, ou alguém que você conhece, tem o hábito frequente de ingerir coisas que não são comida por pelo menos 30 dias, é importante procurar ajuda médica. O diagnóstico é clínico e feito por psiquiatras ou psicólogos. Exames de sangue ajudam a investigar deficiências nutricionais ou efeitos colaterais.
Existe tratamento para a síndrome de pica?
Sim, embora não haja um tratamento único, o ideal é uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir:
Suplementação de nutrientes (como ferro e zinco)
Terapia psicológica ou comportamental
Uso de medicamentos psiquiátricos em alguns casos, como antidepressivos
O acompanhamento médico é essencial para evitar complicações sérias e restaurar a qualidade de vida do paciente.
Curiosidades extras que você (provavelmente) não sabia
Algumas culturas ao redor do mundo normalizam o consumo de barro ou argila, o que torna o diagnóstico mais desafiador.
Há registros históricos de alotriofagia em tempos de guerra e fome, como uma estratégia de sobrevivência.
O termo bezoar designa uma bola de material não digerido que pode se formar no estômago de quem consome tecidos, cabelo e outros itens — sim, igual àquelas pedras misteriosas que os gatos vomitam.
E você, já teve algum desejo alimentar estranho?
Talvez uma vontade incontrolável de gelo, farinha ou até borracha de lápis? Esses sinais podem parecer inofensivos, mas merecem atenção. O corpo e a mente muitas vezes gritam por socorro de formas inusitadas. Ficar de olho nesses “sinais silenciosos” pode fazer toda a diferença.
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