Siamesas separadas em Goiânia têm febre alta e estão entubadas na UTI após cirurgia de 19 horas, diz médico
Siamesas Kiraz e Aruna, de 1 anos e 6 meses, vieram de São Paulo para realizar a cirurgia. Procedimento contou com a participação de 16 especialistas e com uma equipe multidisciplinar de 50 profissionais.

As siamesas Kirz e Aruna, de 1 anos e 6 meses, enfrentam febre alta e estão entubadas apos 19 horas de cirurgia para separação, segundo o médico responsável, Zacharias Calil. O procedimento contou com a participação de 16 especialistas e com uma equipe multidisciplinar de 50 profissionais, segundo o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (HECAD).
“São pacientes consideradas graves. Estão entubadas e sob efeito de sedativos [...] A única alteração que elas tiveram de ontem para hoje foi a febre alta, que nós estamos tentando controlar", relatou o especialista.
A separação foi iniciada na manhã de sábado (10) e terminou às 4h20 da madrugada de domingo (11). As duas eram unidas pelo tórax, abdômen e bacia e seguem internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
No boletim divulgado no domingo, o hospital destacou que as duas estão em observação, com estado geral estável, uso de ventilação mecânica e dieta zero. "A equipe multiprofissional segue acompanhando atentamente a evolução das pacientes, considerando o pós-operatório como uma fase crítica que requer monitoramento contínuo", informou a nota.
Complexidade da cirurgia
O médico goiano chegou ao seu 23° procedimento de separação de gêmeos siameses e o 2º no Hecad. A preparação para o procedimento começou há 6 meses, quando foi realizada a primeira cirurgia de pré-separação, onde as meninas receberam expansões de pele.
"São cerca de 16 profissionais envolvidos, entre eles quatro anestesistas, residentes, três urologias, pediatras e ortopedistas. A cirurgia tem um custo de mais de R$ 2 milhões e é custeada totalmente pelo SUS", pontuou Zacharias.Zacharias considerou o procedimento muito complexo e destacou que somente a retirada da terceira perna durou cerca de três horas.
De acordo com o médico, a divisão dos órgãos provoca um processo inflamatório intenso. “Você tem que dividir o intestino, as bexigas, retirar a terceira perna. Tudo isso provoca uma reação inflamatória intensa nos dois organismos", explicou.
Em entrevista o cirurgião pontuou a parte mais complexa do procedimento.
“A maior preocupação que eu tive foi em relação à parte do tórax. Nós tivemos que dividir aquela membrana do coração, e quando você abre, expõe os dois corações", disse."O fígado pra mim foi uma surpresa muito grande. A gente sabia que ele era espesso, mas daquela quantidade não. Não é um fígado normal que a gente tá acostumado a ver em qualquer paciente, o delas é um tumor que dividia os dois lados", mencionou o médico.
Recuperação
Após a separação, há um prazo de cinco dias para um prognóstico do caso, para que os intestinos voltem a funcionar e haja uma melhora nesse sistema, explicou o especialista.
“Como elas não tem aquela cobertura normal que a gente chama de peritônio, nós tivemos que colocar uma tela. Em cima da tela, a gente coloca a pele que foi dos retalhos da terceira perna. Não é fácil para elas terem essa recuperação no prazo de uma pessoa normal, que seria cinco dias”, detalhou Zacharias.
As crianças são naturais de Igaraçu do Tietê, em São Paulo. Segundo o Hecad, o processo cirúrgico contou com mais de um ano de planejamento. As irmãs são acompanhadas desde os primeiros meses pelo médico e deputado Zacharias Calil.
Além do procedimento, as gêmeas passaram por consultas quinzenais em abril e visitas semanais ao hospital para que o crescimento das duas fosse acompanhado, além do esquema vacinal, para garantir a imunidade das irmãs.
Segundo o especialista, as gêmeas eram unidas pelo osso ísquio e possuíam três pernas e compartilhavam a bacia, abdômen e tórax, além de diversos órgãos, sendo classificadas como esquiópagas triplas, um caso especialmente complexo.
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