Andre Tomazetti
A notícia ruim da Quaest para Lula e o desafio de Caiado
Entre a liderança frágil de Lula e a janela aberta para Caiado, a Quaest mostra que a eleição de 2026 pode ser menos previsível do que parece
A pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana passada trouxe números que, à primeira vista, parecem confortáveis para o presidente Lula. No segundo turno de 2026, ele venceria todos os adversários testados: de Ciro Gomes a Tarcísio de Freitas, passando por Michelle Bolsonaro, Ratinho Jr. e Ronaldo Caiado. A vantagem, no entanto, esconde um detalhe incômodo.
Contra Tarcísio, por exemplo, Lula aparece com 43% das intenções de voto, contra 35% do governador paulista. Uma margem de oito pontos que, no Brasil polarizado, é muito menos do que parece. A mesma pesquisa mostra que em alguns cenários, a diferença cai ainda mais, deixando claro que a eleição não será um passeio no parque.
Pior: quando o foco sai das simulações de segundo turno e entra na avaliação do governo, a fotografia é menos animadora para o Planalto. A aprovação pessoal de Lula oscila em torno de 50%, mas cresce a percepção de que o governo está aquém das expectativas. A Quaest identificou que boa parte do eleitorado acredita que Lula perdeu conexão com o povo e que o Brasil segue na “direção errada”.

O dado talvez mais preocupante está na economia. A maioria diz que a vida ficou mais cara, o poder de compra caiu e a qualidade de vida piorou nos últimos dois anos. Em outras palavras, a pauta do bolso continua sendo o calcanhar de Aquiles do governo.
Passado o julgamento de Bolsonaro e com o tarifaço americano perdendo força, o ganho que Lula tinha acumulado também perdeu gás. O humor da economia mal gerida (e percebida como tal pela população) estacionou a aprovação em um nível mais baixo. A única exceção que chama a atenção é o desempenho entre evangélicos, onde houve uma leve melhora, em parte atribuída a programas sociais de curto prazo como o Vale Gás.
Mas se Lula tem motivos para se preocupar, Caiado tem uma oportunidade cada vez mais clara em mãos. A pesquisa mostrou que 27% dos eleitores que desaprovam o governo simplesmente dizem que não votariam em ninguém ou preferem anular. Esse contingente é, ao mesmo tempo, o maior obstáculo e a maior chance do governador goiano. Obstáculo porque a rejeição a Lula não se converte automaticamente em votos na oposição. Oportunidade porque, se alguém conseguir conquistar esse eleitor órfão, abre-se um espaço real para ameaçar o favoritismo do presidente.
O detalhe é que, fora de Goiás, Caiado ainda é um nome desconhecido. Grande parte do eleitorado nacional não sabe quem ele é. Isso, no entanto, pode ser visto como vantagem: apesar de ser uma missão difícil, ele ainda tem um ano inteiro para se apresentar ao país, moldar sua imagem adequada àquilo que o eleitor espera (balizado por pesquisas) e trabalhar justamente sobre esse eleitorado que já decidiu que não gosta de Lula, mas ainda não encontrou uma alternativa.
Na mesa do Planalto, portanto, a boa notícia é que Lula lidera. A ruim é que ele lidera por pouco. Já na mesa da oposição, Caiado tem pela frente um prato cheio: transformar 27% de insatisfeitos sem rumo em capital político, e fazer isso rápido, antes que alguém ocupe esse espaço.
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