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Aparecida,20/12/2025

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Andre Tomazetti

Corrupção, a culpa é sua!

A servidora foi presa, mas os cúmplices desse mercado continuam soltos


Corrupção, a culpa é sua!

Na Aparecida dos milagres invertidos, uma servidora da saúde foi presa por cobrar pix para agendar consultas no SUS. Presa e demitida. E assim, aparentemente, a justiça foi feita. Ou quase.


Nos comentários, o povo se dividiu entre dois tipos de indignação. De um lado, os que celebravam a prisão como se o câncer da corrupção tivesse sido, enfim, arrancado pela raiz (tem também os que meteram Lula e Bolsonaro na conversa, mas o problema desses é mais crônico, não vale tratar aqui). Do outro, os que admitiam, quase com naturalidade, que fazem o mesmo, que pagam, que propõem, que “não tem outro jeito”, porque se não pagar ninguém consegue consulta. E é aí que a história começa a ficar mais interessante.


A corrupção, essa velha senhora que a gente gosta de imaginar como um problema distante, nascida nos gabinetes de Brasília e alimentada por engravatados de terno caro, na verdade começa aqui embaixo, no chão quente das filas, das repartições e das conveniências diárias. Ela nasce no jeitinho. No famoso “só uma perguntinha rápida” dita pra furar a fila. Na ligação pro conhecido da secretaria pedindo pra agilizar o atendimento. Na mensagem pedindo algo acompanhada de um “eu te ajudei na campanha”. No “só dessa vez”. No “é assim mesmo”.


É assim que o pequeno desvio individual, aparentemente inofensivo, se transforma num sistema inteiro de troca de favores, empurrões de privilégio e pequenos acordos silenciosos. De tanto repetir, o jeitinho vira regra, e a regra vira mercado. E onde existe mercado, logo aparece quem queira lucrar. O corrupto grande, aquele que vai parar no noticiário, só floresce porque o corrupto pequeno (muitas vezes você) regou o terreno com a água nutritiva da conveniência.


Quando o costume se espalha, a coisa se institucionaliza. A corrupção deixa de ser exceção e passa a ser método. A pessoa que tenta agir certo vira ingênua, o que fura fila é esperto, e o que paga pra resolver rápido é prático. E aí o ciclo se fecha: as pessoas só conseguem acesso a serviços públicos se aderirem à mesma lógica que dizem odiar. O sistema é corrupto, sim, mas a engrenagem que o faz girar somos nós.


A agora ex-servidora foi presa. E devia ser mesmo. Mas ela é só a ponta visível de uma estrutura que a gente mesmo ajuda a sustentar. Ela só cobrava porque havia quem pagasse. Porque havia quem aceitasse. Porque, no fundo, a corrupção virou uma moeda social, um jeito de resolver a vida.


Quer acabar com a corrupção? Comece não querendo levar vantagem. Comece não tentando furar a fila. Comece não sendo o cliente fiel desse mercado de pequenas desonestidades. Porque, no fim das contas, a servidora foi presa, mas o cúmplices dela continuam soltos por aí.



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