Andre Tomazetti
Quanto tempo cada estado levaria para saber quem matou Odete Roitman?
Em Goiás a resposta viria ainda em outubro, no restante do país só em dezembro
E se Odete Roitman fosse real e seu homicídio acontecesse em algum estado brasileiro, quanto tempo demoraríamos para saber quem puxou o gatilho? A resposta não é animadora. Segundo a edição mais recente do estudo Onde Mora a Impunidade (aqui), divulgada em 2024 pelo Instituto Sou da Paz, grande parte do país só descobriria o assassino em dezembro, cerca de 61 dias após o último capítulo. A pesquisa, que já se tornou referência na área de segurança pública, avalia a capacidade dos estados de esclarecer homicídios com base em um critério objetivo: considera-se esclarecido o caso em que pelo menos um autor é denunciado pelo Ministério Público. É, em essência, um indicador de eficiência institucional e um espelho do quanto a investigação criminal consegue, de fato, entregar respostas à sociedade.
Mas nem todo o país vive o mesmo enredo. Enquanto a média nacional de esclarecimento é de 39%, há estados que transformam investigação em resultado. Distrito Federal e Goiás, por exemplo, resolveriam o crime de Odete Roitman ainda em outubro. O DF, com 90% dos casos esclarecidos, seria o primeiro a chegar ao nome do assassino, o público saberia o resultado já na semana seguinte, em 27 de outubro. Logo depois viria Goiás, com 86%, que revelaria o desfecho em 31 de outubro.
Do outro lado da tela, onde a impunidade é regra e a novela nunca termina, o Rio de Janeiro, com 25%, e a Bahia, com apenas 15%, só “descobririam” o assassino às vésperas do carnaval. Nos dois estados, a baixa capacidade investigativa e a ausência de estruturas periciais adequadas mantêm milhares de casos sem conclusão, e o pior, famílias sem resposta.
O estudo mostra que dois terços das denúncias acontecem ainda no mesmo ano do crime, o que reforça a importância de fluxos bem geridos entre Polícia Civil e Ministério Público. Também aponta avanços na padronização dos critérios de elucidação, fruto da articulação entre chefes de Polícia, Ministérios Públicos e o Fórum Nacional de Segurança Pública. O próximo passo, segundo o Instituto, é consolidar esse indicador como política pública permanente, sob coordenação da Senasp, garantindo transparência e comparabilidade entre os estados.
O remake de Vale Tudo traz de volta a pergunta que parou o país em 1989. Mas, fora da ficção, ela continua atual. Saber “quem matou” é mais do que curiosidade: é uma medida da força do Estado em garantir justiça. E enquanto o Brasil da ficção vai matar nossa curiosidade no fim da próxima semana, o Brasil da realidade ainda estaria presa num roteiro de impunidade que insiste em não acabar.
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