Andre Tomazetti
Os caminhos para o Senado em Goiás
Pesquisa da Atlas Intel mostra como anda a imagem dos pré-candidatos e antecipa os desafios de cada um
Falta pouco mais de um ano para que Goiás escolha seus dois próximos senadores. E a Atlas Intel publicou uma pesquisa que mostra como anda a imagem dos principais nomes da política goiana. A partir dela, resolvemos olhar para os personagens que cogitam disputar o Senado em 2026 e analisar onde cada um está hoje e que caminho terá de trilhar até a urna.
Antes, vale pontuar que a eleição para duas cadeiras tem uma dinâmica particular. O eleitor vota duas vezes, e isso abre espaço para surpresas. O primeiro voto, quase sempre, é mais de opinião, carregado de ideologia, identificação pessoal ou preferência política. Já o segundo costuma ser mais pragmático: vai para quem tem boa imagem, não desperta rejeição e aparece como uma opção segura. Muitas vezes é esse segundo voto que decide a disputa e, dependendo do contexto, pode até transformar o coadjuvante em protagonista.
Na lista abaixo, ordenamos os pré-candidatos a partir da soma entre imagem positiva e neutra. Esse percentual indica o potencial de conquistar o chamado segundo voto e, claro, de brigar pela vitória.

Gracinha Caiado (81%)
Primeira-dama de Goiás, Gracinha Caiado carrega um sobrenome que pesa. Coincidentemente ou não, seu percentual de imagem positiva + neutra (81%) é idêntico ao do governador Ronaldo Caiado, que por sinal lidera com folga a aprovação no estado, tendo 73% de imagem positiva sozinha. Esse capital político é, sem dúvida, um atalho no caminho da primeira-dama.
O fato de estar no governo, próxima de Daniel Vilela e de toda a base aliada, torna sua missão bem mais simples. Não é de hoje que o nome dela circula em reuniões políticas, eventos e rodas de bastidores como uma aposta para o Senado. E não como uma primeira-dama decorativa: ela tem participação ativa em programas sociais, mas também aparece em políticas de desenvolvimento econômico e geração de emprego e renda.
A leitura é clara: entre os pré-candidatos, Gracinha é quem tem o terreno mais bem pavimentado. Claro, política não é matemática e imprevistos existem (2018 está aí para provar). Mas, diferente de Marconi Perillo naquela eleição, ela não carrega riscos iminentes que possam abalar sua imagem. Hoje, é a favorita disparada e precisaria de uma hecatombe para deixar de ser vista como a mais provável ocupante de uma das cadeiras goianas no Senado em 2026.
Gustavo Mendanha (79%)
Ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Mendanha ainda ostenta o título de mais bem votado da história do país (reeleito com 98% dos votos contra duas outras candidaturas). Em 2022, encarou Ronaldo Caiado na disputa pelo governo sem estrutura, sem recursos e contra um governador com altíssima aprovação. Mesmo assim, chegou perto do segundo turno e bateu quase um milhão de votos.
A pesquisa da Atlas confirma o que se comenta nos bastidores: Mendanha tem uma imagem sólida, transita bem entre diferentes espectros ideológicos e é visto como um nome “agregador”. Seu estilo carismático e conciliador faz dele, segundo analistas, um dos favoritos ao “segundo voto” do eleitorado em 2026.
O desafio, porém, é claro: diferentemente de Gracinha Caiado, Mendanha não conta hoje com estrutura de governo nem com grande exposição política. Sua força aparece em campanha, como se viu na eleição de Leandro Vilela em Aparecida, um candidato desconhecido, que saiu com menos de 10% nas pesquisas e quase venceu no primeiro turno, em grande parte graças ao peso de Mendanha na mobilização e articulação. Mas desde 2022 ele não ocupa cargos de destaque, e sua imagem esfriou.
Recentemente filiado ao PSD, Mendanha entrou pela porta da frente: no ato de filiação, Vanderlan Cardoso, presidente estadual do partido, chegou a dizer que ele poderia disputar “o cargo que quisesse”. Poucas semanas depois, o discurso mudou: Vanderlan passou a se colocar como o nome do partido ao Senado e a empurrar Mendanha para um papel de vice em 2026. O clima interno azedou, mas os números da Atlas mostram que Mendanha é hoje mais viável que Vanderlan. No PSD de Gilberto Kassab, pragmatismo é a regra, e a tendência é que se opte pelo caminho que garanta mais chances.
Para isso, Mendanha precisa reativar sua presença na cena estadual. É como um jogador de enorme potencial que está no banco: todo mundo sabe que ele pode decidir, mas o jogo só muda quando ele entrar em campo.
Alexandre Baldy (70%)
A soma de positiva e neutra coloca Baldy em 70%, mas a maior parte desse índice vem do “neutro”. Ou seja, ele ainda é relativamente desconhecido do eleitor goiano. Já foi ministro no governo Temer e hoje comanda a Agência Goiana de Habitação (AGEHAB), que tem capilaridade política relevante.
Baldy tem imagem sem grandes vícios e poder econômico para erguer uma campanha robusta. Mas seu principal obstáculo está dentro da base governista. Em 2022, a fragmentação dos votos levou Wilder Morais ao Senado. O fantasma dessa divisão ronda 2026, e hoje a tendência natural é a chapa governista se alinhar em torno de Gracinha Caiado e Gustavo Mendanha.
Para Baldy, o desafio é duplo: ganhar visibilidade e se firmar internamente como opção viável. Ainda tem tempo para construir sua imagem, mas precisará enfrentar a aritmética política. Jogar contra os números nunca é simples.
Gustavo Gayer (67%)
Entre os nomes que aparecem com força na disputa, Gayer é visto por muitos analistas como um dos favoritos. Seu trunfo é claro: a capacidade de agregar o voto da extrema-direita. Em uma eleição para duas cadeiras no Senado, isso pode ser decisivo. Como já comentamos, um voto costuma ser ideológico, o outro é mais pragmático. E em Goiás, onde o eleitorado é majoritariamente de direita, posicionar-se como “o candidato ideológico” tem grande potencial.
O primeiro obstáculo é jurídico. Gayer responde a um processo que pode torná-lo inelegível. Se a Justiça confirmar a restrição, o jogo acaba antes de começar. Mas se entrar na disputa, ele tende a ser um player relevante.
O segundo desafio é político. Mesmo dentro da direita, seu bolsonarismo incondicional divide opiniões: fideliza um grupo expressivo, mas afasta outros que preferem um perfil mais sóbrio. Essa radicalização também dificulta que ele seja visto como opção para o “segundo voto”, que costuma ir para nomes de imagem mais leve e menos rejeição.
Por fim, há a questão das manchas pessoais e de imagem. O histórico de envolvimento em um acidente fatal quando dirigia embriagado, além de declarações polêmicas contra adversários, imprensa e instituições, tende a voltar à tona na campanha. São elementos que aumentam sua rejeição e reforçam a dificuldade de expandir além do voto ideológico.
Gayer pode ser forte no primeiro voto da direita, mas terá dificuldades em conquistar aquele segundo voto pragmático, justamente o que costuma definir o jogo pro Senado.
Rubens Otoni (65%)
Veterano deputado federal, Rubens Otoni já avisou que não disputará mais a Câmara. Naturalmente, surge como possibilidade de ser o nome da esquerda ao Senado em 2026. Dentro do PT, é visto como agregador e tem capilaridade, especialmente em Anápolis.
Fora do círculo politizado, porém, ainda é pouco conhecido. O público reconhece que ele é deputado, mas não sabe identificar suas pautas. Isso pode ser corrigido, mas depende de tempo e exposição.
Seu maior problema é estrutural. A esquerda em Goiás ainda não definiu que serão seus candidatos, e essa demora pode prejudicar sua construção. Além disso, o teto eleitoral da esquerda no estado é baixo, e episódios antigos (como o vídeo em que aparece recebendo dinheiro de um bicheiro) podem ressurgir.
Ainda assim, dentro do campo progressista, Otoni já desponta como o mais viável.
Major Vitor Hugo (65%)
Eleito em 2018 como o deputado menos votado da bancada, Vitor Hugo ganhou projeção por ser homem de confiança de Jair Bolsonaro. Isso lhe deu espaço para disputar o governo em 2022, com desempenho fraco, mas muito acima de sua estreia política. Em 2024, voltou a mostrar força com uma votação expressiva pelo PL.
Apesar do perfil bolsonarista, é menos estridente que Gayer e já ensaiou diálogos com outros grupos, como a base de Caiado e Daniel Vilela. Na prática, aparece como “plano B” caso Gayer se torne inelegível.
O problema é que é ainda menos conhecido e pode perder tempo precioso esperando uma definição judicial. Entrar no jogo tarde demais pode inviabilizar sua competitividade.
Adriana Accorsi (61%)
A posição de Adriana Accorsi na pesquisa me surpreende. Eu esperava que, por ser perfil agregador, aparecesse um pouco mais bem colocada. Identificada com a esquerda, mas de perfil mais sóbrio, ela carrega uma característica rara no PT goiano: consegue ser vista como “palatável” até por eleitores fora do campo progressista. Na eleição para a Prefeitura de Goiânia, em 2024, não foram poucos os que diziam votar nela “se não fosse do PT”.
Esse traço lembra, em certa medida, a imagem de Gustavo Mendanha: alguém de posição ideológica definida, mas que, pela postura, conquista simpatia além da própria base. Isso faz de Adriana um nome com potencial para disputar tanto o primeiro voto ideológico da esquerda quanto o segundo voto pragmático, que costuma ir para candidatos de imagem mais leve.
O problema é que essa estratégia é delicada. Crescer muito no voto ideológico pode reduzir sua chance de ser vista como opção para o voto pragmático. E o maior desafio de todos não é pessoal, mas estrutural: o Partido dos Trabalhadores em Goiás. A imagem de Adriana se choca com o cenário de um estado majoritariamente de direita, onde não há sinais de crescimento da esquerda no curto prazo. Em disputas anteriores, para governadora e para prefeita de Goiânia, essa barreira já ficou clara.
Adriana, portanto, tem a imagem certa, mas no contexto mais difícil. Para transformar esses 61% em viabilidade real, precisa de uma estratégia afinada: crescer sem se prender à redoma ideológica e superar o compasso de espera da esquerda em Goiás para definir um nome único ao Senado.
Vanderlan Cardoso (61%)
Senador em mandato, Vanderlan busca a reeleição, mas sua trajetória recente mostra altos e baixos. Ao aceitar a filiação de Gustavo Mendanha ao PSD, chegou a sinalizar um recuo em sua própria candidatura, mas logo ficou claro que se tratava de um movimento estratégico: fortalecer o partido, do qual é presidente estadual, e capitalizar parte da imagem positiva de Mendanha para seu projeto pessoal.
Vanderlan cresceu politicamente a partir de sua gestão em Senador Canedo, onde foi prefeito bem avaliado e reeleito com tranquilidade. A partir daí, tentou voos mais altos (concorreu ao governo em 2010 e 2014) mas sempre ficou como uma terceira via, sem chegar a um segundo turno. Foi em 2018 que sua imagem de “segundo voto” acabou lhe rendendo a vitória: não era a primeira escolha da maioria, mas foi a opção segura de muitos eleitores, o que o levou ao Senado em primeiro lugar.
De lá para cá, porém, sua imagem desidratou. Em Goiânia, disputou a prefeitura em 2020 e perdeu. Em 2024, chegou a liderar pesquisas, mas terminou em quinto lugar. Na mesma eleição, sua esposa, associada diretamente à sua imagem, também não teve bom desempenho nem mesmo em Senador Canedo, sua base histórica. Perdeu jogando em casa.
Além disso, Vanderlan carrega a pecha da instabilidade política: já foi aliado de Marconi Perillo, depois de Ronaldo Caiado, já esteve com o bolsonarismo e já se afastou dele. Trocas de lado e promessas não cumpridas criaram desconfiança nos atores políticos do estado, e hoje isso pesa contra sua viabilidade.
Ainda assim, ele pontua nas pesquisas e pode ser competitivo, especialmente se Mendanha deixar o PSD. O problema seria entrar como candidato avulso, sem o selo de “candidato oficial da base”, o que reduziria suas chances. O trunfo que ainda mantém é o comando da Codevasf, que garante entregas de maquinários e investimentos pelo interior, além do peso de ser senador em mandato. Mas estruturalmente, seu cenário é mais complexo do que já foi.
Marconi Perillo (52%)
Marconi Perillo segue no radar porque há a possibilidade de composição com Wilder Morais: ele sairia para o Senado enquanto Wilder disputaria o governo. Hoje, no entanto, o próprio Marconi trabalha abertamente como pré-candidato a governador. Ainda assim, a hipótese de disputar o Senado mantém seu nome nesta lista.
O problema é a rejeição. Segundo a Atlas, 48% dos eleitores dizem ter uma imagem negativa do ex-governador. O novo marqueteiro de Marconi tem dito que essa rejeição é “narrativa”, mas a política é feita de percepções, e a imagem negativa do ex-governador parece cristalizada. Foram 20 anos no poder, um partido (o PSDB) em franco encolhimento, além do peso de episódios como sua prisão e as acusações de corrupção que o acompanham sempre. Esse pacote desgasta a confiança tanto do eleitor quanto de possíveis novos aliados.
Nos bastidores, há quem defenda que Marconi concorra a deputado federal, onde poderia capitalizar o apoio de ex-prefeitos e lideranças locais ainda fiéis a ele, em parte por gratidão ao período em que governou. Isso ajudaria também a dar sobrevida ao PSDB em Brasília. Mas Marconi parece não abrir mão de estar em uma chapa majoritária.
Sua força no interior segue relevante, mas os resultados recentes mostram que não é suficiente para elegê-lo, até porque está baseada em alianças antigas, sem novas adesões ou renovação. Em 2022, disputou o Senado como candidato avulso, sem uma candidatura forte ao governo que desse lastro à sua campanha. Chegou a acreditar na vitória, mas Wilder Morais fez a arrancada final e tomou a vaga.
Dessa vez, uma aliança formal com Wilder poderia corrigir essa fragilidade estrutural. O desafio, no entanto, é maior: reverter uma rejeição consolidada na cabeça do eleitor goiano. E esse é um obstáculo que nem mesmo a melhor narrativa de campanha consegue apagar com facilidade.
Jorge Kajuru (51%)
A chegada de Jorge Kajuru ao Senado em 2018 teve muito de acaso. A prisão de Marconi Perillo, às vésperas da eleição, abriu espaço para que Kajuru, conhecido como o inimigo mais feroz do ex-governador, surfasse na onda do “anti-Marconi”. O resultado foi uma arrancada que o levou à vitória.
Mas, de lá para cá, sua trajetória foi de erosão de imagem. Kajuru sempre teve apelo popular como apresentador e radialista, com seu estilo brigão e verborrágico. No Senado, até ensaiou manter esse perfil, mas criou mais arestas do que pontes. Em vez de consolidar capital político, acumulou problemas com aliados e até com a imprensa. Tentou se reaproximar de Marconi Perillo, mas foi ignorado. E, quando sentiu a reação negativa do eleitor, disparou que o “goiano era ingrato”.
Em política, o eleitor é soberano. E os 49% de rejeição que a Atlas aponta para Kajuru são um recado direto: o mandato não correspondeu à expectativa. Ideologicamente e politicamente inconsistente, passou boa parte do tempo de costas para Goiás, priorizando embates pessoais e nacionais. Tentou uma recuperação na reta final, mas soou forçado e logo se desfez.
Ainda figura como pré-candidato à reeleição, mas já admite a possibilidade de tentar uma vaga em outro estado (o Distrito Federal é uma das hipóteses). O fato é que, em Goiás, sua imagem está gasta demais para repetir o “golpe de sorte” de 2018.
O retrato da Atlas mostra que, em Goiás, a eleição ao Senado de 2026 deve repetir a lógica dos dois caminhos para o voto. O primeiro tende a ser ideológico/apaixonado (e aí nomes como Gracinha, Gayer e Adriana entram com força em seus respectivos campos). O segundo será pragmático, dado a quem tiver melhor imagem e menor rejeição (onde Mendanha, Baldy e até Vanderlan podem brigar).
No fim, a disputa será menos sobre quem grita mais alto e mais sobre quem consegue ocupar esse espaço do segundo voto. É ele que costuma decidir a eleição para o Senado. E, a pouco mais de um ano do pleito, os caminhos já começam a se desenhar.
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