Junior Vilela
Título de cidadão: homenagem justa ou cerimônia de autopromoção?
Em Aparecida de Goiânia, a Câmara continua distribuindo títulos de cidadão a figuras de passagem, enquanto quem realmente contribui com a cidade segue sem reconhecimento.
Em Aparecida de Goiânia, de tempos em tempos, a Câmara Municipal faz questão de entregar um “Título de Cidadão Aparecidense” a alguém. É aquele diploma bonito, entregue em uma sessão solene, com fotos, discursos emocionados e aplausos.
Na teoria, é uma homenagem a pessoas que contribuíram de forma significativa para o crescimento da cidade. Na prática, muitas vezes, virou apenas mais um ato político e partidário.
O título de cidadão é uma honraria simbólica aprovada pelos vereadores por meio de um decreto legislativo. Não tem valor financeiro nem poder jurídico, mas carrega um peso social e emocional enorme. É como dizer: “essa pessoa faz parte da nossa história”.
Até aí, tudo bem. A ideia é bonita, justa e deveria ser motivo de orgulho. O problema começa quando se olha de perto quem está recebendo esses títulos.
Enquanto professores que dedicaram a vida a formar gerações, líderes comunitários que enfrentaram dificuldades sem nenhum apoio, artistas locais que projetaram Aparecida pelo Brasil, cientistas que pesquisam em condições precárias e pequenos empresários que ajudam a desenvolver a cidade seguem invisíveis, a Câmara se reúne para homenagear empresários que pisaram uma única vez no município ou políticos que só lembram da cidade em época de eleição.
E o mais curioso é que todo esse processo, que poderia ser rápido e simples, consome tempo e energia do Legislativo. São dias de tramitação, pareceres, reuniões, votações e solenidades. Tudo isso enquanto pautas realmente urgentes, como saúde, mobilidade, segurança e saneamento, ficam paradas à espera de prioridade.
É o tipo de coisa que faz o cidadão comum se perguntar qual é o papel de uma Câmara: fiscalizar o poder público e votar leis que melhorem a vida das pessoas ou entregar diplomas para amigos influentes?

Aparecida é uma cidade viva, diversa, com mais de 600 mil habitantes e histórias inspiradoras em cada esquina. Aqui tem gente que levanta cedo para servir café nas escolas, que recolhe doações para famílias carentes, que ensina música em praças públicas, que faz pesquisa em universidades, que gera emprego, que transforma vidas.
Essas pessoas sim mereciam estar sentadas no plenário, sendo aplaudidas por vereadores e por toda a cidade.
Mas, infelizmente, o reconhecimento continua sendo distribuído com base em conveniências políticas e interesses de ocasião. E é aí que a homenagem perde o brilho e vira apenas um teatro. Um aplauso vazio.
Ah, e vale lembrar que o mesmo acontece na Assembleia Legislativa e nas câmaras de outras cidades, onde o título de cidadão se tornou um ritual constante, muitas vezes usado para fortalecer alianças políticas, e não para reconhecer quem realmente faz a diferença.
Aparecida de Goiânia não precisa de títulos de papel. Precisa de reconhecimento de verdade, de políticas públicas eficazes e de vereadores que saibam distinguir gratidão legítima de autopromoção.
Porque o verdadeiro cidadão aparecidense não precisa de diploma para provar seu amor por essa cidade. Ele mostra isso todos os dias, nas pequenas atitudes que fazem Aparecida crescer, mesmo diante da falta de prioridade de quem deveria representar o povo.
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